A mulher de cabelos negros voltou a agarrar-lhe no casaco. Mas desta vez a súplica nos olhos transformou-se em determinação. Antes que ele tivesse tempo de perceber o que lhe ia na cabeça, a mulher meteu a outra mão dentro do casaco de Pedro e saiu de lá com a bolsa dele.

— Hei! Não pode… — ele tentou agarrar-lhe a mão quando se apercebeu de que ela o ia roubar, mas a mulher era mais esguia que as cobras de água dos rios subterrâneos. Ela começou a correr pela plataforma, o seu casaco vermelho a abanar para a esquerda e para a direita com cada passada rápida. Conseguia enfiar-se entre as pessoas e a Pedro não lhe restava mais do que dar encontrões a quem encontrava pelo caminho na esperança de a conseguir apanhar. Pela rapidez e ligeireza com que fugia, Pedro percebeu que se tratava de uma ladra profissional. Ele já devia saber! Ela devia começar sempre por mostrar os seus olhos de desalento e a sua bolsa inútil antes de passar à ação.

— Agarrem-na! — gritou Pedro para quem o quisesse ouvir. Olhos desconfiados concluiram que ele devia ser um daqueles malucos que tinha passado demasiado tempo nas minas a beber da água subterrânea e afastaram-se para ele passar. Nesse momento, Pedro ganhou avanço e conseguiu segurar debilmente a ponta do casaco vermelho entre dois dedos. A mulher virou-se para trás, desequilibrou-se, e deixou a bolsa roubada rebolar pelo chão à sua frente.

Os olhos desconfiados dos que os observavam focaram-se agora na bolsa de líquido sozinha na plataforma.

Senhores passageiros, 20 segundos, 19, 18, 17, 16…

A ação ficou por momentos em suspenso. Um homem no interior da cabine agachou-se relutante para tentar pegar na bolsa, mas a mulher de cabelos negros avançou com um grunhido e agarrou-a, lançando-se a correr pela plataforma a fora com o Pedro atrás dela.

Ela parou em frente à última porta da cabine quando o último apito ecoou a cinco segundos de encerrarem as portas. Agilmente, lançou a bolsa para um par de mãos que a esperavam no seu interior. Em retorno, recebeu um maço de cigarros. Depois desapareceu a correr pelo túnel escuro.

As portas da cabine fecharam-se ermeticamente e as luzes no interior acenderam. O Pedro reconheceu imediatamente os caracóis ruivos da pessoa que tinha recebido a sua bolsa e sentiu uma dor no peito. Era a Sara. Através do vidro, ela mostrou-lhe duas bolsas com luzes incandescentes azuis, uma em cada mão. A dela e, agora, a dele também. Antes de Sara se sentar e desaparecer do campo de visão de Pedro, ela sorriu-lhe, e encolheu os ombros.

FIM

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